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Na altura, no momento, a avalanche de tudo que fizeste de
errado, tudo quanto conseguiste engatar, tudo quanto pura e simplesmente
fodeste, recai sobre ti com uma força tal que até te encolhes. Dobras-te sobre
ti mesmo, fechas e cerras os olhos, os dentes, as mãos. Os erros levantam a
cabeça e tu baixas a tua, sentido o peso da culpa, da vergonha, do puro mal-estar
por a lista aparecer e continuar a crescer e parecer nunca mais acabar e ficar
cada vez mais pesada e cheia e a dor, a dor, a culpa, e a puta da lista
continua a rodopiar, quase como se estivesse a gozar por saber que, agora, com
a tua ajuda, só poderá crescer ainda mais.
Aos poucos, libertas as mãos, os olhos, o estômago. Aos
poucos, voltas à tua forma normal, mesmo que ainda um pouco curva, corcunda,
até. Olhas para a tal lista, a avalanche, e vês que há lá mais informação.
Nenhum “mas” digno de contrariar ou argumentar um qualquer erro, não, mas
informações adicionais, soltas, tipo “fun facts” que contextualizam e colocam
um foco diferente no alvo de toda a culpa e vergonha.
E aí, quando os olhos deixam de estar semi-cerrados e
consegues deixar entrar um pouco mais de luz, vês, percebes, entendes que os
erros só são erros após o facto. Qual a sensação de estarmos errados? Igual à
de estarmos certos. Só nos sabemos errados depois, depois de acontecer algo ou
surgir aquele pedacinho de informação que altera tudo, incluindo o certo para o
errado. Ou o errado para o certo.
Mas, não questionamos. Sentimos a culpa, o
lamento e não nos lembramos que, na altura, pensávamos que estávamos a fazer
bem. Parece que é desculpa de mau pagador. Parece que é algo que alguém que
se está a tentar livrar das suas responsabilidades diria. Parece algo de alguém
que se acha sempre cheio de razão. Parece algo que alguém extremamente frio
diria.
Na verdade, é a única forma de nos perdoarmos pelos
erros que efectivamente cometemos. De perdoar os outros.
Todos estamos certos até haver prova em contrário. Na nossa
cabeça, para nós, é assim.
Ou aprendemos com o que errámos ou, então, não, perpetuando
os mesmos erros até se tornarem hábitos, parte de nós.
Qual a sensação de estarmos errados? Igual à de estarmos certos.
Qual a sensação de estarmos errados? Igual à de estarmos certos.
E isso é que fode tudo.