28.11.11

Cornos e Corninhos

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Num destes dias, e não tendo eu nada melhor para fazer, tentei fazer uma espécie de conta que me conseguisse indicar, com alguma certeza ou com relativa incerteza, quantas pessoas conheço que não tenham sido afectadas pelo bicho mau da infidelidade, fosse lá qual fosse a forma na qual o mesmo tenha decidido manifestar-se na vida de cada um. 
Se nada tinha para fazer antes, com pouco ou nada fiquei para fazer depois.
A conta deu resultado bonitinho e redondinho: Zero. Uma ou duas, vá… Nunca se sabe.
O meu cérebro começou a rever as histórias que conheço de gente que conheço e desconheço e, sob uma crescente nuvem de desilusão e incredulidade, lá cheguei àquele brilhante resultado.
E o que mais me assombrou foi ter começado a compartimentar as tais “traições” e ter chegado à conclusão que existem níveis hierárquicos quanto à gravidade dos cornos que se metem e se levam. Uns brilham mais que os outros. Uns são mais pesados que outros. Uns mais bonitos, outros mais feios. Uns são uma bênção; outros, um castigo. Uns, um alívio; outros, uma vingança. Uns, uma distracção; outros, um objectivo. Uns perdoam-se; outros esquecem-se. Uns destroem vidas; outros permitem que sejam reconstruídas. Consegui discernir uma data de critérios de classificação que, no fim, fazem com que cada caso seja um caso mas também com que andemos todos devidamente enfeitados ou prontos a enfeitar o próximo (sim, porque uma vez cornudo, para sempre cornudo. Mesmo que se termine a relação, permanece o peso do acto cometido mesmo que com o tempo se torne mais leve e menos sentido… ou ressentido…).
Nas histórias pessoais que conheço, há quem ande a tentar viver com o peso dos acessórios, equilibrando-se a cada passo como se fossem Misses a tentar balançar livros em cima da cabeça para aprenderem a andar de forma mais elegante. De vez em quando lá vão levando a mão à cabeça para os colocarem no sítio certo, para terem a certeza que ainda lá estão, ajeitando-os de modo a não provocarem ainda mais desequilíbrio nos tais passos dados a tanto custo. Há quem ainda não os tenha sentido em toda a sua glória sendo que de vez em quando apenas sentem um ligeiro comichão no alto da pinha que os deixa desconfortáveis mas que atribuem quase sempre a ataques de caspa aguda. Há quem nem sonhe que tal coisa seja possível acontecer no seu mundo belo e amarelo como se cabeçorra  tivesse sido equipada com pára-cornos à nascença. E depois há os que, ao sentir estranho peso sobre a testa e ao repararem que tais apetrechos bloqueiam a vista, os tentam devolver espetando valente marrada em quem ofereceu o que nunca tinha sido pedido, eliminando desde logo possibilidade de segunda volta à praça para ainda mais aplausos do público. Também há quem aceite tais enfeites e os vá tentando limar, em conjunto com quem os doou, até quase desaparecerem e deixarem de se fazer sentir.
É triste olhar à minha volta e ver pessoas de quem gosto a sofrer por terem a mesma falta de coragem que quem lhes traiu teve quando o fez, vivendo a situação como se fosse algo que a vida traz e não aceita de volta, ou então, e talvez pior, ver quem passa os dias de forma alegre e contente, sem nunca sonhar que de cada vez que abana a cabeça há malta que inconscientemente se desvia do caminho não vá alguma coisa vazar-lhes uma vista.
Isto tornou-se numa espécie de epidemia na qual se padece da doença voluntariamente. Vale tudo nesta guerra, até mesmo tirar olhos. Qualquer meio justifica o fim, qualquer mentira justifica continuar-se com a vida como se nada fosse, qualquer engano vale mais que o mais pequeno laivo de honestidade e sinceridade.
Basicamente, cada um vive com os cornos que tem ou põe da melhor forma que pode e consegue. Mas é triste que assim seja. Muito.
Não há fé no Amor que resista. Não há Amor que resista. Não há nada que resista àquele tipo de comportamento que nega o outro, que o mete ao mesmo nível de mosca que se esmaga contra uma parede porque nos incomoda o almoço.
Cornos para isto. Pronto. 

20.11.11

Favas pagas.

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Diz o povo que é nesta vida que se pagam os erros cometidos; que é nesta vida que se colhem os louros do bem que tenha sido feito. E eu, elemento activo do povo, concordo, apoio e até perpetuo tal ensinamento tão cheio de sabedoria.
Eu pago as minhas favas, uma a uma ou em conjunto se assim tiver que ser, e, como tal, porque contribuo com a minha parte para o equilíbrio do Universo, possuo a firme convicção de que também posso cobrar que paguem favas quando para tal houver motivo e razão.
Basicamente, acho que a malta não deve passar impune pelo que faz ou, pior, não faz, e acho-me no direito, quando a coisa me toca, de levantar fava bem alto e reclamar pagamento da mesma. Em dinheiro.
A malta, no geral, considera a responsabilidade uma coisa pesada e feia, castradora e demasiado aborrecida para ser levada a sério. Eu, que até gosto de umas boas doses da mesma, nem que seja para me fazer sentir útil, penso exactamente o mesmo do seu contrário: a falta ou inexistência de responsabilidade, incluindo-se aqui aquela coisa toda da desresponsabilização. Aquela coisa das desculpas de mau pagador, as explicações atiradas ao ar que nem postas de pescada por quem não tem como realmente se explicar sem ser através de postas de pescada voadoras. E para quem nem sequer acredita que porcos voem, ver postas de pescadas aos alegres pinotes pelo ar é algo que nos remete para cantinhos muito escuros da nossa mente, nomeadamente aquele que tem ligação directa ao estômago e que o volta e revolta, numa de nos fazer lembrar que não, peixe não voa, quanto mais quando cortado aos bocados capazes de cozer. E isto acontece porque, às vezes, a tentação de acreditar é tão forte, tão forte, tão forte que quase acreditamos que o mar não é feito de água mas sim de bonitas nuvens azuis e que, na verdade, as escamas daqueles seres servem para voar suavemente pela brisa e não elegantemente pelas ondas.
A responsabilidade, venha ela de onde vier, é coisa para ser levada com responsabilidade. Se num emprego, as postas de pescada tendem a não flutuar muito tempo por entre os escritórios de quem manda. Se numa relação, as pequenas postas tendem a aterrar de caras e ajudar a abrir os olhos de quem possui os que gostávamos que estivessem fechados. Não dá para fugir à responsabilidade de se ter uma responsabilidade, seja ela qual for.
Ser-se responsável significa também, numa espécie de limite filosófico da coisa, ser-se honesto e verdadeiro para com a responsabilidade em si. Não se pode tentar suavizar o peso de uma responsabilidade, cortando-a aos bocadinhos para que seja mais manejável ou distribuindo-a um pouco por cada dia da semana para que tudo seja mais fácil. Não é um processo de soma das partes… Muito menos dá para mentir sobre ou a certa responsabilidade porque ela, soberana, vai sempre exigir a verdade, seja ela qual for, para se perceber a razão pela qual se deixou que morresse ou não ficasse inteiramente executada. A responsabilidade manda e até mesmo quando se tenta passar por cima da mesma com a desresponsabilização ou quando se tenta matá-la de vez, há que ter responsabilidade também.
Basicamente, não se pode fugir à responsabilidade. Ela tudo vê e tudo sabe. Mas se isso for algo que se quer mesmo fazer, então, há que pagar as favas. É uma responsabilidade que se deve assumir de imediato. Sem medos. E de preferência o mais rapidamente possível.
Por isso, e como tão bem diz o povo do qual faço parte, para terem sempre as contas dos pagamentos em dia, não se esqueçam de ir vendo como está o saldo de responsabilidade vs. favas nas vossas vidas. E também não se esqueçam de guardar mata-moscas gigante por perto para de vez em quando irem limpando o ar das tais postas de pescada, sejam elas lançadas por vós ou pelos outros. É que estas turvam a vista e dão azo a flagelo de conjuntivites.
Pescada, às postas ou não, não voa, gente.
Nem os porcos.
E a fava é alimento que faz bem e que deve fazer parte de uma dieta equilibrada.
Paguemo-las, de sorriso na cara e garfo na mão, não vá a responsabilidade fugir de vez e deixar-nos a sós com tudo aquilo que poderia ter sido se, ao menos, não gostássemos tanto da ideia de mar cheio de nuvens fofinhas e lindas onde tudo voa e nada se afoga.
Bom apetite.

11.11.11

Parabéns!

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Ao que parece, há homens que defendem que, hoje em dia, e devido à emancipação das mulheres, existe muito mais oferta, logo, escolha, por parte dos primeiros em relação às segundas.
Ainda que, nalguns casos, haja ligeiro choramingar por de vez em quando se sentirem tipo naco de carne amassado durante uma noite para bel-prazer de amassadora (tadinhos…), noutros, o caso é diferente. Eles gostam. Adoram. Amam o poder de escolha que, de repente, lhes foi concedido. Adoram a possibilidade de bem avaliar o que mais e melhor lhes enche as medidas, para depois, sem pressas, poderem esc-o-lher. Sim, escolher. Como quem vai às compras. Ou a um leilão. Até ficam doentes de prazer só de saber que nada têm que fazer a não ser aparecer com ar minimamente decente e mostrarem-se disponíveis – elas tomam conta do resto. Ele é olhares, beijinhos no ar, apalpões por baixo da mesa e cartões de contacto com indicação de hotel e hora enfiados directamente na mão de quem se quer lá nessa noite em particular. E tudo subentendidamente sem compromisso e sem o enfado que poderá ser saber o nome de tal conviva.  
E isto é tudo muito bem. Cada um escreve o nome de hotel e hora de chegada onde bem quiser. O problema, penso eu de que, é que as mulheres, mesmo que digam que não, têm este comportamento porque o acham justo em relação ao comportamento de que têm sido alvo desde sempre por parte dos homens. É uma espécie de vingança-demonstração-de-poder-toma-lá-do-teu-remédio-para-ver-se-gostas (e eles não só gostam como agradecem!). Fazem-no com a consciência de que terão de apagar a consciência e passar para outra actividade lúdico-pedagógica o mais rapidamente possível para fazer esquecer o que fizeram na semana anterior, ou na noite passada… A consciência tem limites e os recepcionistas dos hotéis têm boa memória…
E a parte gira é que os homens estão exactamente na mesma. Após tanta tentativa de lição bem dada através de seis ou sete posições diferentes em dez minutos, eles estão na mesma, com a mesma atitude de sempre. Mas talvez haja uma diferença. Pensando bem, até há. É que hoje em dia, ao que parece, poupam-se ao esforço de terem que fazer um esforço. Nós, emancipadas e donas do nosso nariz e com a mania que também somos donas das pilas deles, até os poupamos ao esforço de terem que fazer um esforço para nos terem. E a isso chama-se: cereja em cima do bolo. Nós passamos-lhes atestados de incompetência pensando que basta mostrar um cadito de peito e muita perna para os engatar e eles reagem em conformidade, deixando-nos pensar assim enquanto vão vendo muitos peitos e metem as pernas para o lado.
Parabéns ao mulherio por anos e anos de defesa de direitos, lenga-lengas de igualdade e horas de sofrimento por ele não ter ligado ou por ele não gostar de nós e só nos querer pelo sexo terem resultado em carteiras cheias de preservativos, telemóveis cheios de mensagens obscenas e noites repletas de encontros secretos com quem nem sequer se sabe o nome.
Tal como eles.
Viva a igualdade. Parabéns.

8.11.11

Feliz Natal... blah, blah, blah...

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Primeiros!!!! 
E não se fala mais no assunto. 
'Tá?

1.11.11

Mirror, mirror, on the...


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Às vezes, dou por mim a olhar-me ao espelho e a perguntar “Quem és tu que não te conheço? O que fazes na minha casa? O que vieste aqui fazer? Quando vais embora?”.
Olho-me, sem me reconhecer, e penso em todas as pessoas que também me olham sem me reconhecerem ou conhecerem. Penso no que pensarão elas quando me vêem. Será que se questionam sobre quem eu sou e o que aqui faço, tal como eu? Será que ficam curiosas para saber quem sou? Tal como eu?
Ganhei, por obra do Universo e do árido terreno que por vezes pode ser a minha mente, um novo medo, um novo pânico permanente: será que depois de tanta pergunta feita ao espelho e naqueles minutos em que fechamos os olhos antes de adormeceremos, será que depois de tanta pergunta sem resposta, será que perdi a capacidade de sentir as coisas, pura e simplesmente porque não senti-las torna as perguntas menos dolorosas e a falta de resposta menos penosa? Será que ainda sou capaz de sentir o que há para sentir? Será que a aridez da minha mente se espalhou para outros locais do meu corpo, tornando-os insensíveis e imunes a estímulos externos? Será que a minha recusa em pensar sobre certas coisas me imunizou contra senti-las?
Será que o coração e a mente, quando para a desistência, se unem e partilham forças, ajudando-se um ao outro em direcção à tão desejada derrota final? Será que para o mal, facilitam e, para o bem, complicam? Lutando um contra o outro para ver quem toma supremacia numa qualquer situação de dualidade em que não sabemos qual nos deverá guiar até à luz? Será que são tão esfomeados e sedentos da vitória e glória individuais que de cada vez que desconfiam não as conseguir alcançar, retiram-se da luta, de mãos dadas, abraçados, sem o mais pequeno pingo de remorso e sem nunca olhar para trás?
Às vezes dou por mim a olhar-me ao espelho e a tentar perceber com quem falo: se com o coração, se com a mente. E o coração grita-me que só ele vencerá. A mente grita-me que só ela me poderá encaminhar nos trilhos mais seguros. Perdida no meio de tal batalha campal, por vezes sinto-me oca e vazia, sozinha, incapaz de me confiar as mais importantes das decisões, dos pensamentos, dos sentimentos.
Responsável, vou usando umas tabuletas que avisam os que estão à minha volta: Cuidado! Veículo sem Condutor. Ou então, Não me sigam. Também ando perdida.
Aprendi que os avisos de pouco ou nada valem. Toda a gente tenta ajudar quem se sente perdido, mesmo que não saibam como. É irritante.
Aprendi que só nos deixamos ajudar se confiarmos e se nos conseguirmos rever na prometida salvação. Sem isso, não damos um passo sequer. De que vale? Nem a perspectiva de fazer a vontade ao outro, a de nos deixarmos ajudar, nos ajuda a discernir a questão. Sem sabermos para onde vamos, não vamos para lado nenhum e tudo nos passa ao lado.
A vida, por vezes, prega-nos partidas de muito mau gosto. Trai-nos. Manda-nos à merda. Fecha os olhos e os ouvidos, encolhe os braços e esconde as mãos. Recusa-se a participar.
E é aí, perante essa recusa, que nos temos de olhar ao espelho e perceber que se não formos nós, mais ninguém poderá algum dia fazer seja o que for por ou para nós – seja a mando do coração ou da mente.
Às vezes, olho-me ao espelho e não sei quem olho: se quem era suposto ser, se quem consegui ser, se quem pude ser, se quem posso ser, se quem quero ser. Não sei. Mas sei que há-de ser com aquela cara que vou ter que viver para o resto da vida. Terá que ser pelos seus sorrisos, tranquilidade e serenidade que vou ter que me esforçar. Por isso, o melhor é ir descobrir.  
Rápido.