De vez em quando.

E depois, de vez em quando, mas mesmo só de vez em quando, conseguimos ter presença de espírito suficiente para ver para além do hoje, para ver para além do ontem e para conseguirmos perceber que é no aqui e agora que está tudo quanto se precisa, tudo quanto alguma vez se precisou, tudo quanto se há-de precisar. De vez em quando, só quando fechamos os olhos de cansaço conseguimos ver o que realmente nos cansa. De vez em quando, só quando abrimos muito os olhos é que deixamos de ver, incapazes de filtrar tanta informação, tanta coisa junta, tanto que há para ver. De vez em quando, só nos esticando dos pés à cabeça, espreguiçando todo o nosso corpo, o sentimos inteiro e junto, unido. E depois, mas mesmo só de vez em quando, no meio de tanto ver e não querer olhar, sabemos que tudo correu bem, que tudo há-de correr melhor, acreditamos que há em nós tudo quanto seja preciso para chegarmos lá, seja onde for. De vez em quando percebemos, pela quantidade de gente boa que nos rodeia, que também nós o somos. De vez em quando, quando nos permitimos flutuar, percebemos que conseguimos voar. De vez em quando, mas mesmo só de vez em quando, conseguimos ter presença de espírito suficiente para ver para além do hoje, para ver para além do ontem e para aceitarmos o nosso lugar no agora. De vez em quando, não é preciso fazermos balanços disto e daquilo porque só de estarmos onde estamos, está o balanço feito. De vez em quando, como agora, agora mesmo, neste preciso momento, sabemos tudo isto de uma só vez, sem procurar porquês, sem ligar aos mas, sem adicionar ses. De vez em quando, conseguimos ver mil agoras no hoje, mil agoras no ontem e sabemos que amanhã há-de ter outros mil ou mais. Hoje, quero todos os agoras do ontem e do amanhã. Hoje, é agora. Sempre.

Mas só de vez em quando.