14.11.12

Desafio IV - Emigrar. Para longe.

imagem: google

Resultado do III Desafio - Último lugar. Sucesso! A minha luta pelo último está a correr bem.
Para o IV Desafio, tínhamos de escrever sobre emigrar para bem longe. Como até nem foi algo sobre o qual escrevi há relativamente pouco tempo aqui no tasco, fiquei tão contente por poder voltar a insistir neste assunto. Aqui fica o texto submetido a avaliação. 

"Mesmo a fervilhar de vida e de gente, vejo as ruas vazias.
Mesmo que o sol brilhe e me aqueça a pele, apenas me faz lembrar que noutro sítio, longe, brilha com mais força e beleza. Que este sol aqui é fraco, diluído, impotente na sua missão de iluminar a mente de quem suplica por luz.
Penso em me ir embora para bem longe. Emigrar. Ir para um sítio demasiado longe que não me deixe na pele a comichão de saber poder voltar a qualquer altura caso as coisas não resultem. Tão longe que esquecerei de onde vim; apenas saberei para onde vou.
Nem a comida tem o sabor de antigamente. Agora, serve apenas o propósito de abastecer o corpo, de o alimentar para cá continuar nesta vida que não vai para lado nenhum.
Talvez deva pegar nesta vida e levá-la para um sítio onde possa ser nutrida e cuidada como deve ser. Onde possa florescer e ser vivida com tudo a que tem direito. Onde a minha mente e os meus pensamentos não a façam sentir-se inútil e gasta, sobrevivida num dia-a-dia vazio de sentido e de valor.
Bem longe, lá do outro lado do mundo, o mais longe que se possa ir. Talvez aí, tão desenraizada das origens e tudo quanto se conhece e se sabe, talvez aí se consiga nascer de novo, como se uma longa viagem de avião fosse o meio para uma segunda hipótese de viver tudo o que ficou em stand-by há tanto tempo atrás. Talvez aí perca a sensação que me assola o estômago, a quase certeza de aqui não poder ficar, de aqui não conseguir continuar, de aqui não merecer estar se tudo o que daqui retiro é a vontade de me ir, a sensação de estar a ser repelida para outro lugar, empurrada e puxada até chegar àquele ponto de ruptura em que as evidências são tão fortes que tudo quanto se pode fazer é, de facto, ir.
E vou. Todos os dias vou para aquele sítio em que sei haver uma vida melhor para mim. Todos os dias faço a viagem, navegando por ruas desconhecidas, por caras estranhas, por sítios inexplorados. As malas há muito que foram feitas, o plano delineado. O avião espera-me. A viagem aguarda-me. Não posso esperar mais pelo que não vem. Vou. Para longe e para me esquecer do que nunca foi."

Ansiosa pelos resultados!  

6.11.12

Desafio III... tentou-se escrever.

imagem: google

Para este mais recente desafio, havia palavras proibidas. As instruções foram: Escrevam uma história sem usar artigos definidos e indefinidos. Os textos não devem conter nenhuma das seguintes palavras: o, a, os, as, um, uma, uns, umas. 
Ora, aqui a Je, esperta que nem aço, pensou logo: Foda-se. 
A razão do Foda-se? Nunca estudei gramática portuguesa na minha vida (voltei para cá demasiado tarde para essas coisas, pelos vistos). Não fosse listagem e lá teria eu de ir ver e aprender a coisa num instante antes de poder escrever texto. 
Ora, após dois brilhantes falhanços, pensei: E se tentar um terceiro? Eu lá sou escritora como aquela malta que vai ganhando os desafios e que são criativos e imaginativos e conseguem responder aos desafios como se nada fosse? Eu, como já me disseram, no meu melhor, terei algo de "cronista". Cronista e besta. Nem vale a pena lutar contra o destino. Siga!
Ora vejam com o que contribuí para a causa.


Há coisas difíceis de fazer. Escrever, por vezes, é. Escrever com limitações é ainda mais difícil. Para quem não se quer ou se vê escritora e que manifestamente não percebe simples instruções para elaboração de textos, desafios deste calibre são pura tortura. Ainda que agora haja melhor entendimento, mantém-se sentimento de espécie de tortura que impede dedos de fluírem livremente sobre teclado atento, sedento por infindáveis “tack-tack-tack” que dão som à artificial inspiração de alma.
Participar é bom, faz crescer e dá que pensar, dizem.
Participar é, de facto, bom, mas, por vezes, crescer e pensar faz acordar partes cerebrais pouco ou nada utilizadas. E custa. Muito.
Mas, há que participar e enviar texto, cumprindo com pedido tão cuidadosamente feito.
E cumpre-se com clara vantagem de, como se vê, não haver tanto espaço para grandes dissertações sobre coisas mal entendidas e compreendidas, poupando esforço adicional por parte de Júri em compreender coisas mal entendidas e expressadas.
Pensando-se melhor, agora que jeito foi apanhado, talvez se fale mais sobre isto e aquilo, torturando-se tal referido jeito até à exaustão, tal como quem se tortura para se aproveitar dele para nada (de jeito) produzir.
Ou não.
Haja coerência. 

Olé!!!! Falhanços 3 - Desafios 0.
Amanhã saberei qual o IV Desafio... Aguardo ansiosamente para ver o que a minha falta de inspiração me vai obrigar a (não) produzir para o tema escolhido.
E pronto. Assim vão os desafios (desculpem-me...).

Desafio II... Escreveu-se.

imagem: google

O II Desafio referia-se à Dicotomia Nascimento/Morte, devendo os participantes fazer uso da imagem acima para maior inspiração. 
E eu, imbuída do espírito criativo, produzi esta obra de arte. 


Vir, ir, voltar.
A cama era dura e desconhecida. Acordou sem saber onde estava. Olhou para o tecto e não reconheceu a cor. Olhou para o lado. Viu uma janela e uma mão que se aproximava da sua cara. Reconheceu a voz que lhe falava baixinho perguntando se estava bem. Tentou sorrir. Olhou um par de olhos que chorava em silêncio enquanto a boca, mais abaixo, mexia. Não percebia os sons. Tentou levantar a mão para aquela boca, para sentir o que lhe dizia. Não conseguiu.
O corpo que em tempos lhe obedecia estava agora envolto numa terrível teimosia de inacção. Recusava-se a obedecer. Estava cansado, farto.
Eu já fui assim, pensou enquanto olhava os olhos que choravam, a boca que mexia e sentia a mão que lhe roçava a pele enrugada e gasta pelo tempo. Respirou fundo.
Já fui assim, pensou, dando continuidade às lembranças que agora lhe enchiam a mente de cores e formas e o peito de dor e desespero.
Tinha voltado a não se conseguir mexer como deve ser, a não perceber o que lhe diziam, a não entender o que lhe faziam. Nessa altura, era jovem, demasiado jovem para perceber como funcionava o mundo. Sabia lá o que se passava. Sabia lá que um dia iria conseguir saltar e pular e correr. Que iria conseguir rir e chorar por exactamente as mesmas razões. Que iria descobrir o amor e a deliciosa dor de amor que é ter um filho. Estava a voltar para o ponto de partida, de novo numa cama e seguida por quem lhe poderia prestar cuidados.
Será que, no fim, se volta ao início?, pensou. Será que se vive numa espécie de círculo que se estende e encolhe até voltar ao sítio onde tudo começa?
Levantou a mão e sorriu para quem lhe beijava a fonte e lhe limpava as lágrimas da cara.
Cheguei ao início, ao sítio de onde vim, de onde parti para ir viver. Voltei ao início para que o fim não seja tão assustador, para que lhe reconheça os contornos, sinta familiaridade nas suas formas. Percebi. Finalmente.
Tocou na boca que mexia, emitindo sons incompreensíveis. Viu preocupação e amor. O seu filho. O que marcou o apogeu da sua vida e cujo crescimento lhe ditou o declínio.
Tudo tem o seu tempo, reconheceu. Respirou fundo. Sossegou.
Vim, fui, voltei e agora, no fim, só me resta

Sim, o texto acaba assim mesmo. Não está incompleto. O/A personagem morre a meio do pensamento. Muito bom, huh? Pois... nem por isso. Ao que parece, a coisa circular da vida, dos túneis e das luzes que brilham passaram-me ao lado. A alta velocidade.
Falhanço número dois no papo!

Nos entretantos, escrevem-se Desafios

imagem: google

E então, lá decidi participar em mais um concurso do Escrita Online.
A coisa até que não começou mal em termos de motivação e entusiasmo. Mas, e muito rapidamente, descambou. Estou, nesta fase, agarrada ao último lugar. Tentem lutar pelo primeiro e vão ver como é difícil; tentem guerrear pelo último (no meu caso, pouco ou nenhum esforço requerido) e vão ver o stress que é.
Aqui ficam os textos já entregues de acordo com cada um dos desafios requeridos.
Boas (HA!) leituras.

Desafio 1 - História de Encantar


Aqui a Je, cantou e não encantou com a seguinte:


Tinham demorado anos a encontrarem-se. Décadas. Meses e semanas e minutos e segundos passados na busca de algo que se sentia ter que existir. Encontraram-se.

Tomarem conhecimento das mais pequenas coisas, no meio das maiores, parecia uma aventura de piratas, com reviravoltas e mapas mal desenhados e praias paradisíacas, desertos intermináveis, noites quentes cheias de estrelas. Era o caminho que valia a pena. O nascer da paixão, do arrebatamento, das manhãs sonhadas em braços entrelaçados, as noites adormecidas ao som de respirações calmas e profundas. Os olhares cúmplices, o sossego de alma, a calma urgente no toque. Encontraram-se e depois disso, todos os dias, encontravam-se um pouco mais. Segredos contados e adivinhados, mágoas choradas ao serem traduzidas em palavras, alegrias gritadas e saltadas, envoltas em abraços fortes que prometiam muito mais de tudo o que pudesse haver.
Depois da deliciosa tempestade, depois da imaculada tormenta que é descobrir o mundo a quatro olhos e duas bocas, veio a desejada calmaria. A confiança cega e tão segura de si própria que não lhes era preciso saber ao certo para saberem o que era certo. Vidas anteriormente divididas tinham renascido para o mundo e este, em troca, tinha-se mostrado sincero e honesto, atirando-lhes com tudo o que houvesse para que o bom fosse realmente maravilhoso e o mau apenas um meio para se fortalecerem e se apegarem ainda mais, garantido assim a utilidade das décadas de busca, presenteando a missão com o mais sublime dos tesouros. Calmaria. Época de paz. De olhos fechados por já saberem o caminho.
Sem que nada o fizesse prever e sem aviso, um dia tudo mudou.
Estava a pentear-se ao espelho quando reparou que só a si se via. Uma cara, carne e osso. Nada mais.
Perguntou-se para onde tinha ido, para onde tinha fugido, para onde se tinha abandonado a ela própria após tanto tempo de enamoramento, após tanto esforço para se descobrir e encontrar. Tinha-se fugido a ela própria. Tinha confiado que se teria sempre ali, segura e salva, quase como de mão dada. No dia que se esqueceu de se encontrar, perdeu-se. Escapou-se.
Ficou só, repleta daquela solidão que só quem se perde a si próprio conhece.
Continuou a procurar, aqui e ali, na esperança de voltar para ela mesma. Mas era inútil. Se já nem ao espelho se reconhecia, como haveria de ser reconhecida por quem se perdeu dela sem olhar para trás? 

E pronto. Armei-me em esperta e... consegui. Falhanço nº1 - Done!